sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Filhos de um deus menor

A pele sua a doença nos lençóis amargos Em que deitas o corpo. Nas mãos traças o destino cansado de si mesmo. Enrugam-se os olhos à espera do amanhã seco. O Sol curva-se sobre si mesmo, na curva nada te espera. Da morte restou o negro vazio da ausência. Queres os dias e as noites, o sonho e a realidade, o néctar A morder-te os lábios mudos. A vida piscou-te os olhos tantas vezes, ofuscou-te os sentidos Com promessas inúteis de dias longos e férteis. Pertences a um tempo negado, uma multidão cega de si mesma. Há medo escondido nas vértebras do teu sentir. Um rio poderoso de coisa nenhuma. Sentiste tanto e amaste tanto e foste tanto E nada resta de ti. Abres a boca e engoles o silêncio. Crescem-lhe asas na escuridão da tua mente e na eloquência dos teus actos. Pendem-te dos seios maduros, as chaves que te acorrentam os pulsos frágeis Aos pedaços de sonhos que mamam, famintos, fetos inacabados Filhos de um deus menor. Dos cantos da boca, o silêncio lambe-te as sementes de esperança. Abandonas-te à doença que te corrói a fragilidade do corpo suado.

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