quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Donzela

A poesia seduz-me como uma mulher embriagada, o hálito doce a roçar a minha pele sensível. Sussurra-me mistérios e palavras que temo, como amuletos que guardam o teu coração. Vejo-a dançar, os cabelos longos a lamberem-lhe a cintura. Permaneço, muda. Trago uma tempestade no peito, que encerro com dedos leves. A poesia rodopia e ri, ri e as suas gargalhadas são manhãs de Primavera. Raios de calor com que agrilhoa a minha voz que morre nas paredes. O quarto rodopia, sinto uma náusea atirar-me num êxtase poético. A poesia segura-me o rosto nas mãos ossudas que se transformam em mãos de donzela. Abraço-a, rendida num quebranto que me rendilha as vontades. Rezo em silêncio para que este momento não termine, infinita rendição que torna as cores vibrantes e faz asas nascerem nos espaços entre as costelas. Dos olhos nascem pombas como lágrimas, nascem arco-íris como fotografias. Sei dela, que tem nome. Entreabro os lábios para a chamar, para lhe dizer de mim todos os segredos, todos os sonhos, todas as incógnitas, todas as esquinas, todos as portas. Entreabro os lábios e o seu perfume acre queima-me a língua. Num suspiro murmuro o teu nome.

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