tag:blogger.com,1999:blog-69759860371681288522024-03-16T01:12:45.782+00:00o grito do silênciofairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.comBlogger120125tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-62896704747091969772023-12-08T23:03:00.000+00:002023-12-08T23:03:02.117+00:00O sentido do Caminho<p><span style="white-space: pre-wrap;">Reencontro-me no silêncio, ideias difusas,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">confusas, emergentes</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">atropelam-se por entre o sibilar da (des)rotina.</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">Se virar o olho para dentro</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">há um caldeirão fumegante de saber e de incongruências,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">tão vasto que quase consigo acreditar que os mundos se fundem</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">e se confundem. As respostas e as perguntas misturadas</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">num fluxo milenar de sentiência.</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">O esforço, meu e dos outros, dos que viajam</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">na sombra dos dias, neste espaço entre o sagrado</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">e o profano, entre a ciência e Deus</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">transfigurado numa escada, uma corda</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">pulsante por onde nos chegam vibrações</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">do Universo e da multitude do Espaço e do Tempo.</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">Caminhos que percorremos sós, onde antes estiveram outros</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">e depois outros estarão, em busca, sempre em busca</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">da sonoridade, das linhas e dos travessões.</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">Da febre da criatividade contida, até rebentar </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">numa exigência gritante, fundamental, como se todos </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">os Homens e os que vieram antes dos Homens e os que virão depois dos</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">Homens, gritassem numa só voz, um uníssono</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">de procura. A insatisfação permanente no peito,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">a mensagem pulsante que escrevemos em todos os poemas, </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">todos os livros, todos os ensaios. Nas peças de teatro,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">nos filmes, nos papéis em que nos convertemos</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">emocionados, em que sentimos o que não é nosso,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">é do Outro. </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">O sentido é sempre para lá do que é a distância de nós</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">até alguém, uma enfermidade benigna de saber,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">mesmo sem acreditar. De sentir que podemos, devemos, </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">caminhemos, correremos, voaremos, </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">até ao fim e para lá do fim, de volta ao princípio, </span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">de novo, hoje, amanhã, até que o pulmão páre,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">uma e só uma travessia. No deserto, pelos oceanos de Estrelas,</span><br /><span style="white-space: pre-wrap;">até ao embrião e ao momento que a luz se cega nos olhos.</span></p>fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-80782060383269362942023-07-18T22:13:00.004+01:002023-07-18T22:13:22.828+01:00Sal Amargo<p>De ti soube que percorres as estradas<br />em busca da liberdade que perdeste ao nascer.<br />Deixas pedaços de sombra como quem deixa poemas.<br />As palavras trazem-te sentidos que não queres<br />recordar. No vento esqueces as mágoas<br />e o (des)amor, um horizonte que te ilude<br />dia após dia, após dia.-<br /><br />Cartas esvoaçam, fugidias, tremem.<br />Por vezes, à noite, quase podes sentir<br />o cabelo, o seio, o monte de Vénus,<br />a língua. Recordações? Ou a tua imaginação<br />a trazer-te os lábios de todas as mulheres que amaste<br />e as que juraste amar.<br /><br />Perdem-se, esquecidas, nuas.<br /><br />Escreves as palavras e apagas,<br />como quem apaga de si próprio o sangue,<br />o gene, o sal amargo dos dias.</p>fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-85633843262241968162023-03-02T16:50:00.004+00:002023-03-02T16:50:17.692+00:00O meu corpo é uma prisão<p> O meu corpo é uma prisão que se degenera<br />enquanto o tempo se eclipsa, o mundo <br />não se suspende quando a dor me<br />afoga, desinteressada.<br />Disassocio com os olhos vagos,<br />a estrada parece interminável,<br />médicos observam-me intrigados<br />com a infinidade de pequenos erros<br />que se atropelam para me envelhecer.<br />Percorro um corredor de gabinetes,<br />saio duma porta e entro noutra,<br />tomo um comprimido enquanto empurro <br />outra porta. A teia torna-se incrivelmente complexa<br />quando pequenos erros se juntam a outros erros,<br />emaranham a minha genética e tudo o que esteve<br />errado na minha vida. Cada grito que silenciei<br />entrelaça-se na probabilidade que a minha coluna<br />irá ceder antes de mim. Cada lágrima que me escorreu <br />pelo rosto, agregada ao sangue,<br />aos anticorpos que são anti. Anti o meu corpo.<br />Anti a minha genética. Um erro numa linha de produção,<br />um soluço da Humanidade, um engano<br />de Deus. Uma alma demasiado grande para <br />a fragilidade da pele.<br />Uma faca encostada à carótida enquanto respiro.</p>fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-17895683465560069112022-10-31T22:57:00.004+00:002022-11-03T12:59:03.388+00:00AbraçoAcordo de noites mal dormidas<br />e tento esquecer o batimento<br />cardíaco que reverbera na ausência.<br />Um eco fantasmagórico dum futuro que nunca foi.<br />Uma impressão que apaguei dos lençóis.<br />Se pudesses, não me terias conhecido?<br />Se o Sol não brilhasse, se a Lua não fosse um astro.<br />Se tudo fosse linear e previsível.<br />Um poema perfeito, sem dor, sem mágoa,<br />sem sentimentos em explosão.<br />Se pudesses, não me quererias inverter<br />as cores? Curar os olhos febris? <br />Tolher-me as mãos com que aperto <br />a maçã de Adão na minha mão de Eva.<br />Se pudesses, nascerias noutro mundo,<br />outra pessoa, outro nome, outro Eu.<br />Outra, outra, outra?<br />Quem serias tu afinal, sem dor, <br />sem o teu sangue a escorrer das paredes<br />para cálices estilhaçados.<br />Quem, afinal?<br />Noutro mundo, talvez o teu coração <br />sinta o meu. E por segundos<br />batam em uníssono. Talvez <br />estejamos felizes e inteiros.<br />Nesse outro mundo, talvez existam crianças<br />nas nossas fotografias. A sorrirem,<br />suspensas no meu seio.<br />Talvez eu tenha as respostas<br />e não existam mais perguntas.<br />Talvez tenha aprendido a escrever<br />sem arrancar o coração<br />pelas costelas. <br />Eu só sou eu quando as palavras<br />estilhaçam a máscara, o sorriso, <br />rebentam as cicatrizes.<br />Se pudesses.<br />Se pudéssemos. <br />Se as noites nunca acabassem, se os silêncios <br />fossem gritos. E o mundo não fosse tão<br />estupidamente complicado. <br />Se pudesse, saía de dentro de mim<br />e deixava-me a secar,<br />até nada mais restar<br />de quem sou. E talvez aí renascesse<br />para além dos meus sonhos e desejos,<br />das minhas imperfeições,<br />dos meus ossos e da degeneração<br />lenta mas imparável do meu corpo.<br />Se pudesse, despia o meu corpo<br />só para me abraçar.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-69491305639211828162021-06-26T23:04:00.000+01:002021-06-26T23:04:13.385+01:00(re)EncontroEle pousou o copo na mesa, perplexo. Não a imaginou ali. Imaginou-a em vários momentos, mas nunca fortuitamente.
Ela sentou-se sem pedir licença. Invasiva. Parecia desenquadrada naquele ambiente e no entanto, continuava a segurar o olhar dele com o dela.
Ele quis falar, mas teve receio de quebrar o feitiço que a trazia ali.
"És o meu escritor favorito".
Ele fitou-a e pensou o que responder a uma frase que lhe soava como um ataque.
"Não tens escrito".
"Não, não tenho".
"Porquê?". Incisiva.
"A escrita deixou de me fazer sentido".
Ela inclinou levemente o rosto e ele viu dezenas de expressões a transmutar-lhe os traços.
"Não acredito que tenhas abandonado as palavras".
"Podemos dizer que as palavras é que me abandonaram".
Os lábios dela formavam uma linha teimosa. Ele perguntou-se como ela acreditava que podia surgir duma névoa e perscrutar-lhe a alma, como se fosse um direito adquirido.
"As palavras já não me fazem sentido"
Os olhos dela perderam-se numa linha distante e ele sabia que ela estava a debater-se se o abria para procurar as palavras que ansiava.
"Não tenho nada que te possa dar".
"Recuso-me a acreditar que te tornaste mudo, que não tens textos a rasgaram-te os limites, recuso-me a acreditar!"
Onde estiveste? - queria agarrá-la e sorver dela as palavras. Queria enterrar os dedos nos braços dela e trespassá-la com pontos de exclamação.
Sentia a frase sufocá-lo, és feliz? És feliz?
"Perdoa".
Ela olhou-o, os lábios entreabriram-se para retorquir uma nova exigência mas suspenderam-se. Ele queria alcançar a mão dela e provar a si mesmo que não estava a delirar.
Como se o tivesse pressentido, ela colocou as mãos perdidas no colo.
Ficaram em silêncio e ele suprimiu a ânsia de a percorrer a pele.
Ela parecia-lhe tão igual e simultaneamente tão diferente. Sabia-a, como duas linhas que correm paralelas até convergirem numa explosão e de novo se espelharem numa eternidade.
"Pareces diferente" murmurou ela.
"Pareço?"
Ela sorriu. E ele sentiu. O frémito das palavras a insurgirem-se contra o peito. Queria dizer-lhe que se ela ficasse aqui, se ficasse tão perto que o ouvisse sussurrar, as palavras lhe renasceriam nos dedos.
Queria fazer-lhe promessas que ambos sabiam que ele não tinha como cumprir. Queria despi-la e possuí-la, faminto de todas as noites em que dormiu sozinho.
"Achas que algum dia voltarás a escrever?"
"Duvido."
"E o que faço com as saudades das tuas palavras?"
"Arrumas numa gaveta onde as esqueças, dobradas" - apeteceu-lhe sorrir quando viu a postura corporal dela a mudar, como que a antever a desilusão.
"Sabes que não funciona assim."
"Sei."
A pergunta queimava-lhe a língua e estremecia-lhe o coração - És feliz? Mas a boca permaneceu muda. Os olhos presos nos dela, inevitáveis.
"E se eu tivesse ficado, terias escrito?"
Sim, teria. Teria escrito e teria fingido que todos os poemas não eram de alguma forma odes ao veneno que era ela a correr-lhe nas veias. Queria prendê-la num abraço e extrair as palavras como uma corrente que amarra o coração.
Teria escrito textos que apagaria quando a madrugada terminasse e com ela o feitiço do corpo nu dela nos lençóis. Teria imaginado enredos cujo final seria sempre uma ausência.
Ele não sabia ficar. Mas isso não impedia a fome que o impelia a agarrar o coração dela com as mãos e apertá-lo até o quebrar em pedaços que nunca mais seriam encaixados da mesma forma.
"Não queres mesmo que responda a isso".
"É melhor não".
Viu-a levantar-se, o rosto escondido em brumas.
Queria pedir-lhe que ficasse, que se deitasse nua nos lençóis até que as palavras lhe brotassem do peito. Queria dizer-lhe que todos os poemas eram um mesmo poema. Queria aprender a ficar.
Quando a noite findou perguntou-se se ela tinha estado mesmo sentada ali ou se a tinha sonhado. fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-60386177679971740532017-08-22T01:24:00.001+01:002017-08-22T01:24:18.168+01:00SimplicidadeProcuro palavras simples que te expliquem a complexidade
tremenda das cores a explodir no meu coração.
Parecem efémeras, envergonhadas pela sinceridade nua do olhar.
Poderia criar todas as metáforas, tantas figuras que se apropriassem do estilo
mas não da luz que ilumina o meu sorriso enternecido a sorrir-te.
(Pres)sinto todos os poemas, sussurros que me comovem o coração.
E são ainda assim tão pouco, tão aquém das nuances de nós.
Preenches os meus silêncios.
Esqueço as palavras, preencho-me simplesmente
de ti.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-86497964063111884532016-11-14T00:38:00.001+00:002016-11-14T00:38:22.241+00:00Manto de saudadeMoras no meu silêncio.
Sereno.
Pergunto-me se nessa existência eterna
o peso da clareza desapareceu do teu olhar.
Regressas em cada música, em cada acorde triste
que invade o coração.
Levaste contigo as minhas letras.
Nada mais sei escrever, agora que não estás aqui.
Teço palavras em silêncio, e em silêncio
sinto-te chegar.
Em memórias esbatidas, em que te ouço chamar-me.
O maior medo de quem ama é esquecer a voz de quem partiu.
Teço palavras por entre o silêncio,
para que possas estar mais um momento aqui.
E mesmo quando lágrimas de sal rasgam o coração
por entre as palavras e os pontos finais,
permito que a sensação de ti invada o poema.
Para que os vazios se apaguem perante a clareza com que te recordo.
Para recordar que só desaparecerás de mim quando surpirar o último suspiro.
O maior desejo de quem ama é a Imortalidade.
Não a nossa, essa não. A dos que amamos, para que possam sorrir-nos todas as manhãs
e todas as noites, em todos os dias da nossa vida.
E a Imortalidade que conhecemos é apenas o Amor.
Que nos faz perdurar para sempre no coração dos que amamos.
Todas as manhã e todas as noites, em todos os dias da nossa vida.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-22148013908358446392016-08-15T01:07:00.003+01:002016-08-15T01:07:41.879+01:00Eco da eternidadeSinto as palavras a sussurrarem pedaços
de mim, tão distantes, frias, cruas.
Dos braços da árvore pendem as fotografias
que nunca tirei, pedaços de nada e de irrealidade.
Estórias, memórias, sonhos que se perdem, esquecidos
por entre as melodias do vento.
E finalmente, o silêncio.
Cúmplice de tantas noites, tantos poemas,
tantos gritos que rasgam as cores opacas
dos caminhos por percorrer.
Existe verdade na solidão.
Existe poder na noite que, imperturbável, te colhe
as asas.
A espaços, o Sol seduz-me, quente.
Inflama o coração de labaredas que lambem
os vazios. Destemidas. Líquidas, ferozes.
Sentimentos que invadem as veias,
forçam as mãos a abrirem-se, honestas.
Fecho os olhos para não os ferir de tanta luz.
Engasgo-me com a força de reter a voz na garganta.
Na árvore, sinto o pulsar das fotografias que se derretem
numa paleta de cores e sentires.
Um rio de laranjas e vermelhos e liláses
que escorrem na pele, até aos dedos.
Um rio de acontecimentos e escolhas
que pintam a minha pele de futuros inacabados.
As cores mascaram a veracidade do meu coração
tolhido, gasto, retalhado.
O Sol desaparece no horizonte.
Fundo-me com a árvore, por entre as sombras.
De mim, resta um rio de cores, como lágrimas
que alimenta a terra serena.
Um grito que ecoa pela eternidade,
de reconhecimento do tudo que é ser-se humano.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-67541512897940904662016-06-01T13:03:00.002+01:002016-06-01T13:03:55.501+01:00Quando eu era criançaQuando eu era criança,
tive mães que não me carregaram no ventre.
Mães que me disseram: "tens o mundo
preso nos olhos e nas tuas mãos pousarão aves
perdidas nos seus ciclos migratórios".
Quando eu era criança,
o futuro era um palco de sonhos.
Os dias eram longos e as noites obscuras
escondiam as horas em que esquecemos de amar.
Quando eu era criança,
o quarto era cheio de livros
e as bonecas que me acenavam na sua solidão
contavam histórias de ninar.
Quando eu era criança,
as minhas lêndeas eram porquês a florir no meu cérebro.
Adivinhavam-se já as fraturas que me afligiram
a cervical. Eram tantas as questões.
Quando eu era criança,
era certa e era errada, era eu e muito mais.
Era um casulo e já uma borboleta formada.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-26326774131148983272016-02-08T00:14:00.001+00:002016-02-08T00:14:25.411+00:00ReflexosNa Vida, existem tantos caminhos, tantas escolhas, tantos reflexos de nós.
E sempre que escolhemos, a roleta rola e o mundo gira, os trilhos a mudarem,
a luzirem até cegares. No fim que é um (re)começo, sei que te sentarás a meu lado
cansado da viagem e vais sorrir-me. Dirás que vivemos e fomos mais, fomos grandes.
Os joelhos tremeram em noites escuras, os pés arrastaram-se em dias longos.
Foi difícil. A Vida é dífícil. Por vezes, desejas apenas que páre.
Encolhes o corpo frágil, escondes as asas nas costas cansadas e queres apenas
que te esqueçam. Te deixem por momentos respirar fundo. Dizes,
que o Sol é demasiado alto e o Céu é demasiado longe, que na tua voz
nada mais sobra que um fio de nada.
Mas a Vida, não pára. E o casulo onde escondes as linhas que constróis com palavras
não pode albergar o teu corpo indefinidamente.
As mãos tiveram espasmos, a ciclos, de ti partiram pessoas que amaste.
Para outros quadros, outras fotografias.
Sorris-me, e dizes que as escolhas te pesaram nos anos que vivemos,
os anos em que o cenário mudou tantas vezes.
Crescemos. Oh, se crescemos. Tão sonhadores, quanto mudos estão os nossos olhos.
Sou o teu espelho. As tuas raízes roem-me os pés, enquanto os teus braços
procuram o calor da fonte. Iremos partir, para outra Viagem,
mas por enquanto o teu semblante é o meu semblante, e os teus olhos, os meus.
Os teus lábios sorriem o meu sorriso, e nas minhas mãos nascem os teus poemas.
Um cordão de todas as cores, liga o teu umbigo ao meu e os teus dedos confundem-se com os meus.
Lembras? Lembras, quando nos vimos pela primeira vez, o tempo não era ainda tempo?
Murmuras o meu nome, e o meu nome é o teu.
Esqueço-me de mim e de todas as palavras.
O Mundo gira.
Difícil não é perdermo-nos no abismo, difícil é encontrarmo-nos e não sabermos que somos nós.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-73584529649811216902015-12-09T13:16:00.001+00:002015-12-09T13:16:56.399+00:00DonzelaA poesia seduz-me como uma mulher embriagada,
o hálito doce a roçar a minha pele sensível.
Sussurra-me mistérios e palavras que temo,
como amuletos que guardam o teu coração.
Vejo-a dançar, os cabelos longos a lamberem-lhe a cintura.
Permaneço, muda. Trago uma tempestade no peito,
que encerro com dedos leves.
A poesia rodopia e ri, ri e as suas gargalhadas
são manhãs de Primavera. Raios de calor com que agrilhoa a minha voz
que morre nas paredes.
O quarto rodopia, sinto uma náusea atirar-me num êxtase poético.
A poesia segura-me o rosto nas mãos ossudas que se transformam
em mãos de donzela.
Abraço-a, rendida num quebranto que me rendilha as vontades.
Rezo em silêncio para que este momento não termine,
infinita rendição que torna as cores vibrantes e faz asas nascerem
nos espaços entre as costelas.
Dos olhos nascem pombas como lágrimas, nascem arco-íris como fotografias.
Sei dela, que tem nome.
Entreabro os lábios para a chamar, para lhe dizer de mim todos os segredos,
todos os sonhos, todas as incógnitas, todas as esquinas, todos as portas.
Entreabro os lábios e o seu perfume acre queima-me a língua.
Num suspiro murmuro o teu nome.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-10647964557609532372015-07-29T10:41:00.001+01:002015-07-29T10:41:22.139+01:00(re)EncontroA tua partida reveste-se de um absurdo tão profundo,
Que as cores invertem-se até que o ar reencontra o caminho
Para os alvéolos.
Onde a tua essência ressoa, as minhas mãos frágeis não te podem alcançar.
Poderia escrever-te todas as cartas, todas as palavras, todos os silêncios.
Nunca conseguiria descrever o momento da realização da tua ausência
E a forma como este se repete num ritual diário, o coração teimoso a crer que
Estás ainda à distância de um passo.
É ainda a força do teu Amor que me mantém inteira, honesta, digna.
Para que quando me sonhes, comA tua partida reveste-se de um absurdo tão profundo,
Que as cores invertem-se até que o ar reencontra o caminho
Para os alvéolos.
Onde a tua essência ressoa, as minhas mãos frágeis não te podem alcançar.
Poderia escrever-te todas as cartas, todas as palavras, todos os silêncios.
Nunca conseguiria descrever o momento da realização da tua ausência
E a forma como este se repete num ritual diário, o coração teimoso a crer que
Estás ainda à distância de um passo.
É ainda a força do teu Amor que me mantém inteira, honesta, digna.
Para que quando me sonhes, como te sonho, nessa outra Dimensão que os meus olhos apenas
Fantasiam, me saibas tua neta.
Pedaço de ti, continuidade, linha recta do teu saber.
(Re)encontro-te amanhã. Neste tempo sem tempo
De realização do quão absurda é a existência pautada de ausências
De pedaços da carne.o te sonho, nessa outra Dimensão que os meus olhos apenas
Fantasiam, me saibas tua neta.
Pedaço de ti, continuidade, linha recta do teu saber.
(Re)encontro-te amanhã. Neste tempo sem tempo
De realização do quão absurda é a existência pautada de ausências
De pedaços da carne. fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-35214812440072543872015-04-26T16:21:00.001+01:002015-04-26T16:21:56.868+01:00Eco mudoIII
Num eco mudo, o teu nome espelha a aparição da Dama Branca,
O abraço seco com que largaste o último suspiro.
Soube que esse era o primeiro dia do resto da minha vida.
Em que as cores invertidas trocaram a tonalidade pelo opaco
Das raízes que se esvanecem e jazem a meus pés.
Fechou-se a porta da casa e o pó adulterou os teus passos silenciosos
Nas manhãs em que o sonho embalava as nossas pálpebras.
Eras a nossa certeza, o conforto sereno de te sabermos na retaguarda
Dos nossos voos tímidos.
Restam de ti as fotografias e as memórias que guardamos junto ao coração,
Rentes à pele. Restam de ti os nossos sorrisos, os braços da árvore que eras tu.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-9528117786393431082015-04-23T11:46:00.000+01:002015-04-23T11:46:30.340+01:00Serpente PlumadaO coração despe a pele como uma serpente plumada.
A saudade é como uma tinta que sufoca a respiração
Do pulmão. Um reflexo de branco como branco era o teu sorriso.
E a realização da tua ausência, a espaços, como a realização
De um sonho lúcido, é uma mão gelada que acaricia a garganta.
Por momentos, o corpo vacila, a mente recusa acreditar
No que sussurra a razão. Diz-me baixinho que tu não estás mais aqui.
Que para onde partiste não existe linha de conexão.
O tempo pára, nesses momentos.
Porque não existe sentido na Morte.
O tempo não ameniza a dor da ausência fria
Da minh’alma estilhaçada, um ponto de referência
Que se perde nas memórias de outros dias.
II
Não podia imaginar que te ia recordar nos mais pequenos
Momentos. Que os dias trariam de ti pedaços de sabedoria.
Frases com que esculpiste a minha sombra.
Recordar-te é uma rotina que finge apagar o rasto de dor
Que a tua partida deixou.
O ser humano crê conseguir preparar-se para deixar os que ama
Desaparecerem por entre as brumas da memória.
O ser humano crê. E falha redondamente.
Nada nos prepara para um laço que perdura,
Um Amor que nunca acaba e uma estrada que já não conduz
A parte alguma.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-31762947156064266192015-02-21T14:23:00.002+00:002015-02-21T14:23:18.800+00:00ElegiaOs olhos cegam-te para as cores do mundo,
O espectro de cinza confunde-te os sentidos.
Não recordas o primeiro momento em que as íris queimaram
Os indicadores da cor vermelha-sangue.
Apenas reconheces dos dias o som apagado do bafio
Em que se tornou o teu quarto e as paredes que te suportam a coluna vertebral.
Com os anos mudas a pele uma e outra vez, como uma melodia
Que os ouvidos reconhecem de cor.
Coleccionas perguntas para as quais sabes as respostas.
O coração bate, rítmico, embalado na ausência profunda de cor.
Seguro. Seguro. Seguro. Seguro. Seguro.
Do mar esqueces o sal. A água fria que te arrepia as certezas.
Por vezes, o corpo anseia.
Aninhas no teu peito o Vazio que te devora devagarinho
As entranhas serenas.
Seguro, seguro, seguro, seguro, seguro…
fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-43028170659677654302015-02-20T09:21:00.001+00:002015-02-20T09:21:33.572+00:00Filhos de um deus menorA pele sua a doença nos lençóis amargos
Em que deitas o corpo.
Nas mãos traças o destino cansado de si mesmo.
Enrugam-se os olhos à espera do amanhã seco.
O Sol curva-se sobre si mesmo, na curva nada te espera.
Da morte restou o negro vazio da ausência.
Queres os dias e as noites, o sonho e a realidade, o néctar
A morder-te os lábios mudos.
A vida piscou-te os olhos tantas vezes, ofuscou-te os sentidos
Com promessas inúteis de dias longos e férteis.
Pertences a um tempo negado, uma multidão cega de si mesma.
Há medo escondido nas vértebras do teu sentir.
Um rio poderoso de coisa nenhuma.
Sentiste tanto e amaste tanto e foste tanto
E nada resta de ti.
Abres a boca e engoles o silêncio.
Crescem-lhe asas na escuridão da tua mente e na eloquência dos teus actos.
Pendem-te dos seios maduros, as chaves que te acorrentam os pulsos frágeis
Aos pedaços de sonhos que mamam, famintos, fetos inacabados
Filhos de um deus menor.
Dos cantos da boca, o silêncio lambe-te as sementes de esperança.
Abandonas-te à doença que te corrói a fragilidade do corpo suado. fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-59419026925822235052014-12-29T15:47:00.001+00:002014-12-29T15:47:38.902+00:00Tu.A desumanização ocorre enquanto o silêncio se atravessa
Na minha garganta como uma adaga.
Cresce um feto de ausência no meu ventre.
Um grito que afaga as palavras que não te trazem
De volta. Como um rasgar de serenidades.
Quem és tu, afinal? Quem o rosto impassível que me observa
Enquanto despojos de mim surgem nas águas improváveis.
Tu não estás mais aqui.
A vida corre como uma gozação do Universo,
Uma comédia negra de Deus.
E o dia morre na noite, nada mais sobra.
Tu não estás mais aqui.
Contigo a poesia fria nascida de affair clandestino entre as estrelas e o mundo,
Finge seduzir o meu corpo frígido.
As letras caem das minhas feridas abertas.
Não tenho como purgar o coração esquecido
Nas brumas de outrora.
E tu. Não. Estás. Mais. Aqui. fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-74600503418635978982014-09-12T02:08:00.003+01:002014-09-12T02:08:39.812+01:00New dawnA vida lança os dados, ouço os planetas a mudar a sua rota
milenar. Momentos suspensos, em que a sorte colide com o azar
e tudo pode acontecer. A criação nasce da terrível coincidência
de uma noite que se debruça sobre o dia.
Num instante de perfeição, um <i> what if</i> de sentidos
e pombas que nos pousam nas mãos.
Abrem-se os caminhos e poeira cega-nos os olhos,
regemo-nos apenas pelo sentir.
O coração implode-nos no peito em cada batida,
irrompe pelas barreiras e o sangue rasga-nos.
A batida primordial da terra sussurra-me
que é o momento dos meus pés me levarem
num trilho que não era o meu.
-
-
Encosto as mãos tímidas junto ao corpo
tão cheias de nada.
Só um passo.
Só mais um passo.
Só um outro passo.
Um pequeno, miserável, trémulo,
um passo por mim, pela minha sanidade,
um passo em direção ao futuro,
um passo, é apenas... é apenas... é apenas.
É um passo, é um imenso passo, é um enorme
é um destemido, é um grito que envergonha
até o mais bravo silêncio.
O tempo não espera que ouses saber
o que fazer das tuas mãos inquietas.
O tempo não se compadece dos teus lábios
curvos, num desespero mudo de insegurança.
Por vezes, doce criança, a vida tira-te
todas as redes de segurança e tudo o que te resta
são as asas que um dia soubeste usar,
coladas na tua coluna vertebral.
Os teus pés começam a marcha,
as asas abrem-se devagar e o desfecho
reside na força com que fechares os olhos
e aprenderes a fazer diferente.
Toda a mudança nasce do momento em que o desconforto
te oprime o coração contra as costelas
e sabes, com a clareza estonteante da angústia
que amanhã nada será o mesmo.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-88767529710880003672014-08-31T02:38:00.001+01:002014-08-31T02:38:00.337+01:00A alma a esquecer-se de si mesmaCubro-me de silêncio.
Como um casulo que alberga as minhas asas
cansadas. Escondidas, junto à coluna vertebral
que balança mas não verga.
Numa teimosia imperfeita de ser eu.
No fim, nada resta senão folhas soltas
ao vento. Esquecidas por entre as azafámas do dia
mudo. E das palavras, amor, já nada sei.
Ofereci-tas todas. Nada mais resta
a habitar-me os lábios secos.
Prometi-me um mar de certezas.
Um futuro certo e um presente enraizado.
E o passado seriam apenas dias quentes
de sorrisos e ternura.
Lembras?
Os meus sonhos e as minhas angústias,
todas as palavras que te entreguei
embrulhadas em lágrimas e em sorrisos.
Dei-te sonhos e dias inteiros.
Noites rasgadas de incerteza.
Dei-te o meu coração despojado de malícia.
Dei-te um nome e uma casa.
Paredes nuas para cobrires de fotografias
e mapas que te trouxessem até mim.
Dei-te todas as palavras cheias de mim.
Cubro-me, então, de silêncio.
Porque as palavras, os dias e as noites,
não te chegam. E em ti há sempre uma ânsia
de coisa nenhuma.
De um lugar que os teus pés não pisaram.
De uns lábios cujo sabor a tua língua não
saboreou. De uma concretização de momento
que teima em não chegar.
Cubro-me, finalmente, de silêncio.
Porque ainda sinto o teu cheiro e já te adivinho
a ausência.
E a noite nada mais é que o sepulcro
de um amor que não chegou a nascer
dos teus olhos para as mãos.
Ficou-te suspenso nas íris.
Perpetuado de incompreensão
e amargura.
Cubro-me e parto em silêncio.
No espaço árido que é o teu coração
os teus olhos são cegos aos meus.
E das palavras, amor, que tantas vezes
foram pontos de referência, já nada sei.
Tudo em mim morre em silêncio.
A alma não tem como sobreviver ao esquecimento de si mesma.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-87276852435862702942014-08-06T11:39:00.001+01:002014-08-06T11:39:02.152+01:00MagicO coração cede perante a avalanche
de sentimento que brota do mais profundo
do meu âmago. Olho-te com os olhos
que a vida secou com gestos bruscos.
Cobres-me a pele de beijos e os dedos de
estrelas.
O tempo reverte o desfilar dos planetas.
A mente silencia-se e tudo o que sinto
é o som do sangue a ferver-me nas veias.
Os lábios entreabrem-se para beber
de ti, com a sede de anos em que aprendi
a calar o coração.
Prendes-me as mãos com laços de seda
e pétalas de rosa. Prendes-me a mente
na tortura mais benigna, na perda mais deliciosa
de consciência.
Sinto o corpo a arder de fome
das carícias do som da tua voz.
Invadiste a minha vida, o ciclo interminável
de nada.
Simplesmente invadiste-me.
A loucura de um sonho,
de uma noite interminável.
Nasceste de um cometa que atravessou
o meu céu.
Cubro-te os lábios de sussurros,
as mãos de beijos,
o rosto de um mar de abandono.
Esqueço como guardar o coração.
Esqueço-me de como me defender.
Esqueço-me da manhã.
Tudo o que tenho é a noite
a sorrir-me por entre estrelas
que sabem do nosso destino
e não contam.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-22983261422686520312014-07-05T22:17:00.000+01:002014-07-05T22:17:08.999+01:00Desejo áridoÀs vezes acordo para o desejo árido da vida não ser sempre tão dura e não ter que ser tão forte e enfrentar o mundo e o vazio obtuso em que as pessoas transformaram os seus corações.
Às vezes acordo com um desejo profundo de esvaziar a alma de todas as pessoas sem sentido e que bebem do meu âmago como um líquido que as faz continuar e convencerem-se que o mundo ainda é recto.
E em todas essas vezes, todas, desejo que no final me abrisses os braços e deixasses cair os muros com que te defendes de mim e pudesse repousar o corpo das batalhas desprovidas de significado.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-63266024014789931412014-06-24T20:32:00.002+01:002014-06-24T20:38:10.841+01:00Sonho de uma noite de VerãoA chuva convida à nostalgia e sento o corpo mudo
no chão de madeira, debruçada no baú
das memórias. Sorrio imperceptivelmente, enquanto
retiro uma fotografia desbotada.
Vejo-me, quase mulher, o sorriso menino-maduro
como uma afronta, desenhado nos lábios.
O corpo recostado, sereno, antes de inúmeras batalhas
e após tantas outras.
Ouço uma música longe. Melodias de outras eras,
outros amores e desamores.
Tantas escolhas e angústias que atravessaram
o meu coração. E delas, renasci, nas asas
uma frase.
Vejo outra fotografia tímida.
O vestido de linho esvoaça ao vento,
assim como o cabelo comprido que esconde as linhas
do rosto, que anseiam os teus dedos longos.
Toco a imagem, com os dedos trémulos,
como se fossem os teus.
Sorrio. O mesmo sorriso-afronta.
Com que encaro o mundo, com que desarmo o mundo.
Dia após dia, após dia.
Batalha após batalha.
Outra fotografia, e estou numa praia perdida na memória.
Seguro as mãos pequeninas do meu irmão-sol.
Seguro-o, firme. "Estou aqui", pareço sussurrar-lhe.
Procuro fotografias das minhas irmãs,
pedaços da minha alma. Procuro-as, um vazio
a soçobrar-me a tristeza.
Não as encontro, apenas a memória feliz
das noites em que dormi abraçada nos seus corpos magros.
Mas sei-as agora, aqui, comigo.
E a chuva amacia a mágoa.
Vejo-a. A fotografia da minha outra irmã,
capturada por mim, numa tarde de cumplicidades.
Sorri-me, um meio sorriso de quem quer desabrochar.
Ficou assim, suspensa em mim.
Resguardada para a eternidade.
Sinto uma lágrima descer-me o rosto, morrer no lábio.
Foram tantas as tarde que não vivi onde queria.
A chuva continua a cair lá fora, mas aqui já não cheira a terra molhada.
Sinto o teu cheiro. Não ouso mover-me, não quero assustar-te.
Há muito tempo que não via o teu sorriso e os teus olhos enormes.
Pousas a mão delicada no meu ombro.
Sinto outra lágrima fugir, teimosa, dos meus olhos castanhos.
Tens os teus presos em mim.
Não digo uma palavra. Mostro-te as fotografias.
A alma nua, exposta.
Pousas a cabeça no meu ombro.
Há tanto tempo que não te sabia aqui.
O teu rosto, ainda infantil, já tão teu.
Murmuras ao meu ouvido - não chores.
Pouso a minha mão sobre a tua, no meu ombro.
Tenho um mar de lágrimas escondidas nos olhos.
Quero ficar aqui contigo - dizes-me, menino.
Trago-te devagarinho pela mão, para te sentares perto de mim.
Sinto que um dia vou ter o coração dilacerado - dizes-me.
Nesse dia, vais amar-me? Como agora? - finalmente, olho-te.
Pareces frágil, tu, menino, sentado a meu lado.
Os olhos grandes, com mares revoltos e lagos serenos
e a chuva a refletirem-se nas íris.
Sinto que um dia, vou esconder-me de ti - dizes-me.
Não entendo porquê, eu não quero realmente esconder-me de ti, pois não?
Faço-te festas no cabelo e no rosto e sorrio-te.
Não, não queres realmente esconder-te de mim - respondo-te.
É por isso que vieste. Que estás aqui.
Não esqueças o teu coração - peço-te.
Olhas-me, uma alma tão antiga como eu.
Eu não quero esquecer-me de ti - dizes-me.
Aninho-te no meu colo.
Não vais esquecer-te de mim - prometo-te.
Nunca. Adormeço contigo no colo, enquanto as lágrimas se misturam com a chuva.
Foram tantos os perdões, tantos os erros, tantas lutas
e a vida, a vida não devia ser tão difícil.
Acordo e não estás comigo. Certamente foste brincar junto das folhas caídas
de Outono. Na nossa casa, as Estações não se obedecem a regras.
Amor? - sobressalto-me ao som da tua voz, não tu-menino.
Tu. Observas-me, cansado. Subitamente envergonhado.
Aguardo que me digas que te enganaste, que a palavra te fira de morte,
que me digas que existem vários significados para a palavra amor.
Mas não dizes. Observas-me apenas. Os ombros caídos.
Enlaço o teu pescoço, escondo o rosto no meu ombro.
Há pouco, pareceu-me ver-me, menino - sussuras.
Deve ter sido um sonho - os teus olhos escurecem na noite.
Quedo-me silenciosa, nos teus braços.
Não te esqueças do teu coração - sussurro-te.
Está adormecido - respondes-me e lanças um olhar vazio para a porta entreaberta.
Não te esqueças - e cubro os teus lábios com os dedos.
Não te esqueças.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-10124017244788449812014-06-15T22:48:00.001+01:002014-06-15T22:48:52.056+01:00Cegueira do coraçãoOfereço-te poesia em troca de sorrisos.
Mãos abertas em troca de punhos cerrados.
Chuva de ternura que acalma as feridas abertas
em troca de uma calma que enregela
os meus dedos já entrelaçados nos teus.
A alma nua esconde-se, subitamente envergonhada
dos teus olhos secos.
Nas tuas mãos tens o meu coração, quebrado.
No teu rosto, fechas as emoções
e murmuras que não o reconheces.
Engulo em seco todas as palavras que afogo
num copo de vinho que me queima as entranhas.
Esqueces as pontes que ergui para te trazer de volta
à fonte. Esqueces o meu nome.
Se soubesses todas as linhas que me amarram
ao teu corpo, ao teu cheiro, ao teu sabor,
se soubesses...
Enlaço-te enquanto te debates com os demónios
que te devoram a noite.
Acalmas nos meus braços, e eu amo-te infinitamente
nesse momento suspenso.
Acordas e afastas-te a cada minuto, a cada passo.
Combato o impulso de te perseguir, de deixar as palavras
sair como um rio de amor que te trará ao mar
que é a minh'alma.
Não me vês. Não me vês. Não me vês.
A pior cegueira é a que acomete
os olhos do coração.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-54926331558171478102014-06-10T22:20:00.003+01:002014-06-10T22:20:17.052+01:00O sonho da solidãoSonho:
Num mundo paralelo, entro na casa que partilho com o passado.
Observo as paredes, a ausência de fotografias com sorrisos.
Na janela, o cinza do tempo, fere-me as retinas.
O sol há muito que se despediu da terra fria.
Vejo-te e o meu coração está cheio de nada.
Sinto a garganta apertar-se de desespero, de uma energia que impele
os meus pés a fugir mais uma vez da miséria da mediocridade.
Explico-te os motivos, ignoro o cheiro líquido das paredes húmidas.
Quero que os meus dias sejam docemente solitários.
Aceitas a minha decisão, sem grande luta ou indecisão.
Pedes-me apenas um prazo curto para refazeres as tuas lutas.
Passam-se os dias e regresso à casa que partilho com o passado.
Tentas em vão, seduzir-me o corpo e a mente.
Não te quero, não compreendes? Não vês a rejeição do meu olhar chocado?
Afasto-me como um animal ferido, enquanto te despes.
Não quero... não quero... não quero.
Sinto um nojo a inflamar-me a revolta.
Sinto-me um pedaço de carne exposto, um prémio de caçada.
Recuo, recuo até à porta e saio, voo para longe d casa.
Pago-te para que partas.
O Sol volta finalmente, após tantos dias longe da minha psique.
A solidão é um balsámo poderoso para as feridas da alma.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6975986037168128852.post-70924474229351407742014-06-08T19:55:00.001+01:002014-06-08T19:55:45.615+01:00Não existem concidênciasNão existem coincidências.
Existem linhas de tempo, intemporais, que nos levam
ao ponto comum do destino.
Não existem lutas que não podem ser ganhas.
Existem apenas resultados que são o que deveriam ser
e não o que queríamos que fossem.
Não existem rotas de fuga.
Existe apenas a noção clara que esteja onde estiver,
estou sempre no mesmo coração.
Nunca te arrependas do momento em que o teu olhar cruzou o meu,
em que as linhas do teu rosto se tornaram a quimera do meu desejo.
Não existe engano na nossa complexidade.
Existe uma redefinição do que é ser humano e da paleta de cores
com que pincelo a realidade.
Todos os rios, todos os cursos da água límpida do nosso sangue,
todos os respirares, todos os orgasmos, todas as discussões,
todas as lágrimas, todas os recomeços.
Me trazem até ti.
Eu não seria eu sem ti.
E eu amo a pele do meu rosto, nua sem máscara
quando a tocas.fairy_morgainehttp://www.blogger.com/profile/03207725139873662100noreply@blogger.com0