domingo, 14 de julho de 2013

Esquissos

As palavras secam-me nos dedos. Rostos que pairam sobre as minhas pálpebras trementes. Recordações que me cansam os lábios mudos. Os dias passam, fogem por entre as brumas do tempo. Deixam marcas profundas no coração que se apaga, finado. O fado doura os momentos em que a solidão me ensina a não chamar os nomes do passado. O destino quis-me aqui. Frágil e perpétua. Das lições, já decorei as verdades. Os ímpetos morrem-me na garganta, estreita. Já não há força que me traga até mim. A espaços, a revolta atravessa-me as feições fechadas. A espaços, apenas. As palavras, secam-me. Não há Deus, não há fé, não há esperança que me alicie o corpo macerado. Apenas fado, apenas palavras, apenas rostos. Lábios mudos. Frágil e ténue. Apenas silêncio branco por entre as letras, esquissos do quadro final da minha vida pequena.

1 Comment:

Daniel Aladiah said...

Querida Sílvia
O renascer da tua poesia "sofredora" e tão bela. Se for verdade que a poesia nos acompanha a vida, então...
Beijo
Daniel