terça-feira, 29 de abril de 2014

Déja Vu

Na noite escura, os homens de bem deixam os espetros adormecer. Torpes de serenos antidepressivos. Como serena é a inexistência de uma linha escrita que traz os despojos de uma alma faminta junto à linha de água. Na noite perversa, não existem máscaras que disfarcem as rugas que apagam os contornos de um sorriso que desapareceu. Apagado por entre o correr implacável do tempo. Quisera eu acreditar na felicidade que os abraços prometiam. Quisera eu acreditar num caminho em que a poesia não ilumina a rebeldia que transforma as reticências em pontos de exclamação. Na noite pérfida, sinto um bater do coração no mesmo ritmo que as voltas do Mundo. Uma valsa conhecida. Adivinho-te. Na noite fria, o silêncio ensurdece quem o ouve gritar. Não existem segredos no cair da noite. Sei-os de cor. Quisera eu ignorar o déja vu que me enlouquece os sentidos. Quisera eu ignorar o meu nome suspenso nos teus lábios. Como um pedaço de pão com que marcaste o caminho de regresso. Como uma nesga de luz com que recordas como se encaixam palavras num poema. Um puzzle de letras e sentidos. Na noite, nada existe para além da verdade. Eu esqueci-me de mim. Perdi-me de mim. Senti-me e não era eu. Toquei-me e não era eu. Rasguei-me e não era eu. Quisera eu regressar a casa e saber-me aqui.

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