quarta-feira, 28 de maio de 2014

Incógnita

Devolvemos memórias, sorrisos e lágrimas, envoltos em papel de embrulho de má qualidade. Devolvemos as mágoas, os sonhos e as expetativas goradas. Devolvemos as linhas, os pontos finais, as reticências. Devolvemos as acusações veladas, os nuncas e os sempre, os talvez e os vazios. Devolvemos as mágoas, a carcaça onde morou o coração, as noites e os dias. Devolvemos os dedos entrelaçados, os lábios que nos pedem beijos que não sabemos dar. Devolvemos as exigências, as linhas com que limitaram os voos da nossa alma adormecida tanto tempo. Devolvemos os amanhãs, os olhos que nos fitam ao acordar cheios de interrogações. De perguntas para as quais sabemos as respostas de cor. E fingimos não saber. Devolvemos o tempo, os diálogos, as aprendizagens que nunca foram o que deveriam ter sido. Porque os nossos dedos nunca foram suficientemente gentis. Devolvemos tudo. E partimos sem olhar para trás, para um amanhã envolto na bruma de uma incógnita, moldado na certeza que tudo o que podemos ser, somos. E isso basta-nos.

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