terça-feira, 4 de agosto de 2009

Telas inacabadas

As telas inacabadas plantam o solo
de mentiras e palavras leve-maresia
que não te pesam nos ombros,
que me rasgas as inocências
e branqueiam os cabelos outra
negros e agora violados.
Meu amor, dizes-me tu, e na tua
boca toda a verdade é um engano
e finges, finges tão eloquentemente
que esqueces os caminhos e as
ternuras dos dias em que vives
em mim. O sorriso opaco esvai-se-te
do rosto, e amas-me, sofregamente
no momento infinito do fim.
Amas-me em pecado e em ilusão.
Transformas o tempo em maresia,
o ar em fumo espesso, o coração
em vazio, transformas a amizade
em amor e a tesão em loucura.
Dizes-me, engasgado, que existem
diversos sentimentos, todos eles
iguais, todos eles genuínos, todos eles
engodos. Dissemos tantos "adeus",
tantos "nunca mais", prometemos
tantas promessas vãs, afastámos
de nós toda a moral, toda a
consciência e decência.
Nasces na noite e morres-me na noite.
Lavo-te de mim, arranho-me de
desespero de te odiar com a mesma
intensidade que te amei.
E a loucura, amor, está tão perto.
Revejo cada pormenor, cada palavra,
cada soluço para garantir que escondo
todas as chaves do teu coração em locais
que não irei lembrar.
Foste o meu sonho e o meu pesadelo
e de todas as imagens que retenho de ti
"amo-te" foi a mentira mais hedionda
que semeaste no meu
regaço.

2 Comments:

AndréGomes said...

Obrigado fada por estas palavras.

Obrigado Fada.. És inigualável.


« garantir que escondo
todas as chaves do teu coração em locais
que não irei lembrar. »


Ora aqui, ora por demais,
és tudo o que quero ver.


AndréGomes.

Sílvia Vargas said...

O problema do amor é ter várias cores, e o problema das cores... é que nem todas combinam.

Sílvia