sábado, 23 de fevereiro de 2013

Saudades do Sol

O povo eleva-se através da poesia e da magnânima capacidade de ser. Portugal ouve o Sol pôr-se a preto e branco. As almas abandonam a pátria que as viu crescer em busca de si próprias e fugir à miséria à que a pequenez as condena. Na mala levam fado e Fernando Pessoa. Partem e deixam atrás de si raízes e pessoas. Quem fica, empobrece com as saudades de todos os que levaram partes de si. O Sol põe-se em todo o mundo ao mesmo tempo quando as saudades o tornam fosco.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Inverno

Estou sentada, no final de mais um dia onde nada cresce. Nada me acalma a dor que ameaça engolir-me o coração. Vejo imagens de futuros e lares que se desmoronam a meus pés. As pernas vergam-me o peso. Subitamente, o nojo sobe-me pela garganta e perco o Norte. Onde estás tu, afinal? Onde o sorriso que me fez acreditar que o dia amanhã pode ser mais quente. O Inverno arrasta-se e mata no ninho todos os pássaros acabados de nascer. Onde estou eu, afinal? Condenada a uma valsa de recomeços. De enganos, de armadilhas que me prendem os pés cansados. Ensanguentados de tantos dias em que nada cresce. Abate-se sobre o meu mundo, o Abismo. E a minha voz deixa de me devolver o Eco. O que existe afinal? Qual a recompensa que prometo ao meu corpo cansado para o fazer continuar, todos os dias? Pergunto-me vezes sem conta, qual a aposta que fiz com Deus. O que prometi em troca do meu sorriso? Onde estás tu, afinal? Deixo que as lágrimas mastiguem as linhas do meu rosto. E onde pensava existir um campo árido de mágoa escorre sal das minhas feridas. Abertas. Expostas. Deixadas tanto tempo sem uma palavra, sem uma música. E com as lágrimas que se alojam nos meus dedos trémulos, crio e recrio uma escada, um caminho. Finjo. Finjo crer que existe algo no fim dessa estrada. Finjo acreditar que sou eu, que me aceno no fim. Onde estás tu, afinal? A água turva do lago perpetua o som do silêncio com que cubro a carcaça do meu sonho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Construo palavras. Rumos, caminhos, pontes de letras e pontos de exclamação. Através das palavras, trago a curiosidade. Semeiam-se os sorrisos e os planos. As pessoas abraçam-me. Aquecem-me o coração magoado. Aprendi a não ter medo. A arriscar, a caminhar um dia atrás do outro. A enfrentar a desesperança que nos tolda os movimentos. Aprendi a deixar tudo para trás e recomeçar tudo do zero. Aprendi que o medo apenas nos torna mais pequenos. Frágeis. Pequenas folhas a ser arrastadas pela força do vento. Sem que as nossas acções tenham qualquer eco. Uma linha condutora, em que o final somos nós serenos numa cama, a cabeça a repousar na almofada. Leve. Um meio sorriso nos lábios. A força de acreditar que amanhã o dia há-de ser um pouco melhor. Há-de ter mais sorrisos, mais força, mais fé. A força de saber que o Dia terá mais Noite.