segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outono

Debruço-me sobre o poço da verdade. Vejo os rostos, os sons esparsos de uma serenidade translúcida. A vida contorce-se, Sinto o peso a abater-se sobre os ossos frágeis dos joelhos. Pessoas que vivem vidas que não merecem ser vividas. Que escondem a mágoa e a tristeza em pequenas vitórias e mesquinhices. As vozes de hoje serão as vozes de amanhã. Sonhos inacabados, Visitas suspensas. Vidas desperdiçadas. As escolhas que se revestem de impossibilidade. Somos, afinal, o perpetuar de um destino. Fingimos todos os dias escolher o caminho poeirento que nos impele o corpo cansado para o amanhã. Atravessamos as mesms estradas, diezemo-nos realizados, satisfeitos, sorrimos. Hipócritas. Largados na mediocridade do ser. E o Universo avança, inalterado da dor que nos consome as vontades. Cubrimo-nos de nojo e impaciência. As mãos largadas no colo, a contorcerem-se. Espasmos de rebeldia que nos assomam. Adormecemos, adormecem-nos as capacidades, as ânsias e os trejeitos do infinito. Onde viveram as escolhas, hoje apenas se abandonam as perdas. Os terrores. As noites em que não se esconde que um povo inteiro parte, derrotado na sua dignidade em busca de um Sol e de um acolhimento que não encontram nas raízes da Terra Mãe. Partem, despojados de gana. E os que permanecem perdem a força para gritar a injustiça de uma doença maligna que nos verga perante a crueza de um vento norte que impede as sementes de brotar.