segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Até que nova morte nos separe

Cresce a insatisfação no meu coração,
o púrpura que macula a alma,
rasga a inocência e me perpetua de dúvidas
e suspiros. Ainda sinto um coração que pulsa
e não é meu. Ainda sinto a língua ácida
de palavras que se descolam dos livros
para me salgarem os lábios feridos.
A maré de perguntas e incertezas que
afogam a terra firme e a transformam
em areais de fingimento. Longe, sinto
os sorrisos com que ocultas a mão
que te oprime a garganta, o grito que apagas
a cada momento, a lágrima que sufocas na íris.
Quando os planetas rodopiam,
ainda sinto o amor com que escravizaste
todos os meus poemas. Esse amor-doença-rendição.
Longe. A pulsar devagar.
Mente-me. Hoje. Amanhã. Eternamente.
Mente-me, mente-te, finge, finge que
o coração não tem sangue,
que as mãos não tremem quando o sol se põe
e não são os meus olhos a última visão
dos teus quando adormeces.
Mente-me. Vive a tua vida, longe, a vida que
não me ofereceste, mas que o destino
te roubou e largou a meus pés
ainda menina. Acorda, adormece, fode,
longe. Mente-te. Eternamente.
E quando a ressaca, amor, se abater
nos teus ombros e te vergar
as ilusões, virás, um tornado, um tsunami
de emoções. Irás passar a língua nas minhas
feridas e beber o meu sangue. Engolir-me
inteira. Irás renascer, respirar mais fundo,
o sangue irá correr mais depressa,
os olhos mais despertos, as mãos
mais firmes, irás sorrir, irás sorrir,
esse sorriso-doença-amor
até que nova morte nos separe.

sábado, 8 de agosto de 2009

A mágoa IS

De tantas palavras que sei
apenas o silêncio quebra
a fúria da mágoa.


Irina Santos

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Telas inacabadas

As telas inacabadas plantam o solo
de mentiras e palavras leve-maresia
que não te pesam nos ombros,
que me rasgas as inocências
e branqueiam os cabelos outra
negros e agora violados.
Meu amor, dizes-me tu, e na tua
boca toda a verdade é um engano
e finges, finges tão eloquentemente
que esqueces os caminhos e as
ternuras dos dias em que vives
em mim. O sorriso opaco esvai-se-te
do rosto, e amas-me, sofregamente
no momento infinito do fim.
Amas-me em pecado e em ilusão.
Transformas o tempo em maresia,
o ar em fumo espesso, o coração
em vazio, transformas a amizade
em amor e a tesão em loucura.
Dizes-me, engasgado, que existem
diversos sentimentos, todos eles
iguais, todos eles genuínos, todos eles
engodos. Dissemos tantos "adeus",
tantos "nunca mais", prometemos
tantas promessas vãs, afastámos
de nós toda a moral, toda a
consciência e decência.
Nasces na noite e morres-me na noite.
Lavo-te de mim, arranho-me de
desespero de te odiar com a mesma
intensidade que te amei.
E a loucura, amor, está tão perto.
Revejo cada pormenor, cada palavra,
cada soluço para garantir que escondo
todas as chaves do teu coração em locais
que não irei lembrar.
Foste o meu sonho e o meu pesadelo
e de todas as imagens que retenho de ti
"amo-te" foi a mentira mais hedionda
que semeaste no meu
regaço.