domingo, 26 de abril de 2015

Eco mudo

III Num eco mudo, o teu nome espelha a aparição da Dama Branca, O abraço seco com que largaste o último suspiro. Soube que esse era o primeiro dia do resto da minha vida. Em que as cores invertidas trocaram a tonalidade pelo opaco Das raízes que se esvanecem e jazem a meus pés. Fechou-se a porta da casa e o pó adulterou os teus passos silenciosos Nas manhãs em que o sonho embalava as nossas pálpebras. Eras a nossa certeza, o conforto sereno de te sabermos na retaguarda Dos nossos voos tímidos. Restam de ti as fotografias e as memórias que guardamos junto ao coração, Rentes à pele. Restam de ti os nossos sorrisos, os braços da árvore que eras tu.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Serpente Plumada

O coração despe a pele como uma serpente plumada. A saudade é como uma tinta que sufoca a respiração Do pulmão. Um reflexo de branco como branco era o teu sorriso. E a realização da tua ausência, a espaços, como a realização De um sonho lúcido, é uma mão gelada que acaricia a garganta. Por momentos, o corpo vacila, a mente recusa acreditar No que sussurra a razão. Diz-me baixinho que tu não estás mais aqui. Que para onde partiste não existe linha de conexão. O tempo pára, nesses momentos. Porque não existe sentido na Morte. O tempo não ameniza a dor da ausência fria Da minh’alma estilhaçada, um ponto de referência Que se perde nas memórias de outros dias. II Não podia imaginar que te ia recordar nos mais pequenos Momentos. Que os dias trariam de ti pedaços de sabedoria. Frases com que esculpiste a minha sombra. Recordar-te é uma rotina que finge apagar o rasto de dor Que a tua partida deixou. O ser humano crê conseguir preparar-se para deixar os que ama Desaparecerem por entre as brumas da memória. O ser humano crê. E falha redondamente. Nada nos prepara para um laço que perdura, Um Amor que nunca acaba e uma estrada que já não conduz A parte alguma.