sexta-feira, 19 de abril de 2013

Escada evolutiva

Fecho o livro. Nele sinto o teu cheiro. E a promessa de um futuro onde a posse não é material. A génese de um momento que se transmuta numa vida. Uma cura para a mente, um bálsamo para o coração gasto. Semicerro os olhos cansados e és tu que espreita num sorriso honesto. Escrevo-te para te tornar real, na entrega silenciosa do amor. Este é o próximo passo na evolução.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Pause

Na sequência dos dias que me fragilizam os ossos, vislumbro esperança. Cores vívidas e música suave que atenua a mágoa da alma. As palavras sábias da espiritualidade são um bálsamo para as feridas que saram com o tempo. A rebeldia que impele os meus atos surpreende-se com a capacidade permeável do ser humano de reerguer o seu corpo pequeno. A vida atraiçoa-nos uma e outra vez. No final do dia, procuramos as vozes conhecidas, o cansaço puído a vergar as arestas do timbre grave. Nos braços dos que amamos, inspiramos fundo. Amanhã outro dia, outra página em branco a aguardar que nela surjam linhas e cores. Imagens transfiguradas dos sonhos de Deus. Tentamos em vão prever quantas voltas teremos que cumprir, quantos mais exercícios sonolentos da nossa psique para que o Sol continue a nascer no nosso horizonte. They say it can’t rain all the time. Confundo as lembranças de hoje com as projecções do futuro onde quero repousar. Engano a mente, esbato os limites do tempo. Imploro-te que vigies a porta. Hoje não quero que ninguém rasgue as minhas frágeis tentativas de continuidade. Abraço o silêncio, onde tento que os gritos sejam esparsos. They say it can’t rain all the time.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Stardust

What if I was a star? Aguardo a libertação da noite. A ânsia que irá transmutar o nosso semblante. Tornar-nos mais reais e simultaneamente mais etéreos. Aguardo o momento em que a luz se esconde do nosso olhar Perscrutador. Intenso. Maior. Aguardo a verdade que queima sob a forma dos teus dedos. A máscara que se torna rarefeita nos minutos Que antecedem a Lua Branca. Cortejas a curiosidade impaciente do meu sorriso. Estreitas-me contra o teu peito robusto E sussurras-me ao ouvido palavras, sons guturais De posse e transparência. Aguardo o tempo que não é tempo quando o teu corpo Se transmuta num lobo cinza que percorre Os campos a meu lado. Que vigia os meus passos inseguros. Transportas-me a alma transbordante Para os locais mais recônditos do Inconsciente que une todas as almas humanas. Seduzes a mulher-criança-fortaleza, As mãos como garras nas minhas ancas. Enterras o rosto na curva do meu pescoço. És homem-fera-abismo. E tudo em ti é maior. Abandono-me na tua pele, aguardo o beijo eterno da noite. O coração cheio de certezas, de dúvidas, de sentimentos, De pensamentos, de tudo o que é humano e tudo o que é bestial. Somos noite, universo, matéria negra que cria matéria branca. Propósito que todos os dias dos nossos antepassados criaram. Linha contínua de angústia e prazer. Percorres-me a pele com a língua húmida. Dentro de nós uma chama que não morre. Uma chama que nos engole por dentro. Que cria e recria a ponte efémera que liga A carne ao coração, o olho à lágrima, o lábio ao sorriso, A mão à tua mão. O dia à noite, o Sol à Lua. O ontem ao amanhã. Nascemos dos arquétipos divinos onde tudo é luz e negrume. Aguardo que todo o sentimento me rasgue os poros, Me recrie e renasça. Mais eu. Mais intensa. Mais branca. Aguardo que o corpo se precipite no teu abismo E renasça em ti. Mais do que hoje. Mais do que imaginação. Mais do que sentimento, mais do que pensamento. Mais do que nascimento. Mais do que morte. Mais do que noite. Mais do que sonho e ânsia. Poema do poema ancestral. Música da música primordial. Carne da primeira carne. Sonho do momento perfeito. Perfeição da imperfeição. Todas as crenças em convergência, todos os deuses num ser, Todas as verdades numa verdade. What if I was a star?