domingo, 28 de março de 2010

Aqui

Deito-me numa cama de espinhos.
Aqui, nada mais importa. Deixou de existir um sol e uma lua.
As regras desapareceram.
O tempo deixou de escorrer dentro do meu coração.
A alma morre-me devagar, apodrece.
Nada faz sentido, aqui.
Posso ouvir o teu sorriso.
As mãos com que me acaricias as mágoas.
Posso ser eu, aqui.
Eu, tão torcida, tão estúpida, tão lamentável.
Eu, a consumir-me inteira.
Posso ser eu... posso... ser...
Aqui.
E as palavras, fogem-me. Como tu. Sempre tão perto.
E tão longe.
Tu, a consumir-me inteira.
Aqui, não existem morais.
Aqui, só existes tu.
Posso ser amoral.
Posso ser imoral.
Uma criança.
Uma velha.
Uma puta do caralho.
Aqui, não existem medidas. Não existem linhas de acção.
Pergunto-me como não me extingo quando sinto em espiral.
Aqui, posso sentir em espiral.
Existem tantos mundos, tantos dias e tempos infinitos, existem pessoas e espectros, existem serenidades e espantos, amor, existem tantas coisas banais.
Mas aqui não.
Aqui. Não.

terça-feira, 2 de março de 2010

Irreal

O que fazemos quando a moral, tudo o que nos ensinaram e aprendemos enquanto crianças subitamente se torna tão torpemente irreal?
Quando o corpo pede e a alma se atira num abismo de frieza e se esconde de nós?
O que fazemos quando tudo o que restam são incógnitas, becos, amarguras?
O que fazemos quando o destino surge tatuado nas ruas, nas falésias, nos pedaços de nós no mundo?
Tudo o que quero é não querer desta forma.
Ser linear e simplista. Quero acreditar e ter fé e ser banal.
Nestes dias, tudo o que quero é não ser Eu.