segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Morte em Vida

A vida ensinou-me que existem lutas que não merecem ser escolhidas.
Percorres o teu caminho longe dos meus olhos vigilantes.
O que fizeste ao teu Eu, debaixo de quantas camadas de medo o escondeste, não sei.
Sei apenas que não nasci para aplaudir a morte em Vida.
Tu deixaste de ser Tu para seres uma Sombra.
Cheiro o medo em ti.
E eu não nasci para te ver morrer, por escolha, enquanto ainda respiras.

"We were born to die"

A vida enrola-se em nós como uma serpente demasiado bela.
A tentação que nos respira no pescoço.
Mesmo quando tudo o que queremos é respirar pausadamente.
Não queremos palavras. Nem sonhos. Todas as nossas forças são
para sorrir e esconder a solidão, a podridão que nos mora
nas sombras. Fingimos não ver o que tiram de nós.
Temos linhas que nos forçam as pernas,
amarras que nos forçam a ternura e a transformam
em mágoa. Corvos que se deliciam da nossa carcaça.
Mastigam a nossa imperfeição, deliciados com a delicadeza
macabra da nossa pele tão branca. Descobrem-nos
as incertezas, a voz que falha perante a estrada que se adivinha.
Dizem-nos ao ouvido "tenho-te presa pela vida adulta que escolheste.
pelo percurso que te trouxe até mim. és um ponto final. uma entre muitas.
já não és tu noite dentro. a poesia morreu dentro de ti"
E as lágrimas escorrem-me pelos seios, estou nua, estou só.
Algures chegam-me as vozes dos que dizem amar-me.
Quando amar-me é por si só uma batalha.
Eu sou tanto e ainda assim tão menos que humana.
Eu que me curvo para as crianças e os animais e que cuspo
na cara dos que podem. Eu que me recuso a ser menos, a vergar-me
aos que violam. Eu que me recuso a arrastar os que me consideram.
Eu que poderia ser um rasgo de luz mas que quero ser uma explosão.
E as lágrimas descem-me pelo ventre.
Finjo-me. Sorrio com o rosto contorcido e sei que os meus olhos
não mentem. Eu nunca me minto. Eu sei que os outros me vêem
e pensam saber tudo. Pensam ter-me numa trela.
Finalmente muda. Finalmente queda. Finalmente um final.
Sem esperança, sem lágrimas, sem sal, sem explosões.
Só o peso da responsabilidade. Os que escondo dentro de mim,os seus sonhos.
E o meu mundo é o mundo onde se resguardam e murmuram-me que eu não posso cair,
não posso terminar. Eu sou, afinal, a que move. A que faz mover.
A que grita por entre o silêncio.
E as lágrimas secam-me na pele, rasgam-me a alvura do rosto.
E sinto. A explosão. O grito que me sobe pela garganta.
E mudo. Revolto-me. Rasgo tudo.
As amarras, os planos, as expectativasdos que pensam ter o pé no meu pescoço.
Grito e o grito ecoa por entre as marés da vida.
E encolho os que pensaram ter-me finalmente derrotada.
Eles mingam perante a fé imbalável que tenho na força que move a minha mente.
Eu sou Eu. Eu serei sempre Eu. Sempre. Uma fada escondida por entre os humanos.
Abro as asas demasiado tempo recolhidas na coluna.
Grito e sabem que o camnho não é este.Não é por aqui.
Nunca por onde tentam silenciar-me o coração.
E os que me amam sorriem finalmente com a ternura que se impulsiona
como uma onda que os traz até mim.
Tocam-me a medo, os olhos enormes que me emolduram o destino.
Eu serei sempre a que impulsiona. Eu serei sempre
a Empática, a Revolucionária, a Serena, a Última, a Primeira.
Nunca serei menos do que Eu para que os que são menos do que eles mesmos
se possam finalmente sentir em paz com o coração que lhes grita
que o fazem é errado. Eu nunca fingirei que não vejo a violação,
a exploração,a podridão, a mentira e o engano.
Nunca fingirei. Nunca.
Eu nunca serei o meu próprio ponto final.