sexta-feira, 12 de setembro de 2014

New dawn

A vida lança os dados, ouço os planetas a mudar a sua rota milenar. Momentos suspensos, em que a sorte colide com o azar e tudo pode acontecer. A criação nasce da terrível coincidência de uma noite que se debruça sobre o dia. Num instante de perfeição, um what if de sentidos e pombas que nos pousam nas mãos. Abrem-se os caminhos e poeira cega-nos os olhos, regemo-nos apenas pelo sentir. O coração implode-nos no peito em cada batida, irrompe pelas barreiras e o sangue rasga-nos. A batida primordial da terra sussurra-me que é o momento dos meus pés me levarem num trilho que não era o meu. - - Encosto as mãos tímidas junto ao corpo tão cheias de nada. Só um passo. Só mais um passo. Só um outro passo. Um pequeno, miserável, trémulo, um passo por mim, pela minha sanidade, um passo em direção ao futuro, um passo, é apenas... é apenas... é apenas. É um passo, é um imenso passo, é um enorme é um destemido, é um grito que envergonha até o mais bravo silêncio. O tempo não espera que ouses saber o que fazer das tuas mãos inquietas. O tempo não se compadece dos teus lábios curvos, num desespero mudo de insegurança. Por vezes, doce criança, a vida tira-te todas as redes de segurança e tudo o que te resta são as asas que um dia soubeste usar, coladas na tua coluna vertebral. Os teus pés começam a marcha, as asas abrem-se devagar e o desfecho reside na força com que fechares os olhos e aprenderes a fazer diferente. Toda a mudança nasce do momento em que o desconforto te oprime o coração contra as costelas e sabes, com a clareza estonteante da angústia que amanhã nada será o mesmo.