segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Regresso

Voltas.
Como voltas sempre, amor. Fitas-me, cansado, os olhos obscurecidos e pouco crentes.
Abraças-me o corpo, absorves os espaços que são teus. Murmuras-me ao ouvido palavras sem sentido. Tens febre.
Pressinto a onda que mergulha a psique na dimensão que é nossa. Onde ninguém nos entenderia. Onde falaríamos um português que mais ninguém sabe falar.
Onde as palavras são apenas nossas e os sentidos foram atribuídos num passado distante.
Enraízas-te. Sei onde te nascem as feridas, sei que a febre não vai ceder hoje. Faço amor com o teu coração e com os dedos que se enterram na minha carne, deixo que me inundes de verde e de azul e de mar.
Purgo as feridas, suavizo a dor que é minha, que pulsa na minha essência e é tua. Nasce em ti e morre-me na língua. Que passo, áspera nos lábios.
Amanhã, sei que as abrirás e que as abrirás sempre e para sempre, enquanto todas as noites, toda a nossa vida, irei apagar as tuas cicatrizes. Por alguns momentos. Amanhecerás sempre igual, sempre meu. E de noite, voltas, amor. Voltas com o impacto de uma chuva de outono, violado de realidade e amargura.
Arrastarás o corpo, farás amor comigo, irás foder-me a alma, irás ver-me, tão claramente como se a carne não existisse na nossa dimensão. Terás dúvidas.
Terás certezas. Terás orgasmos mentais e físicos.
E a febre, talvez nunca ceda completamente.

Não quero que me ames de qualquer outra forma que não esta.

sábado, 12 de setembro de 2009

A esperança do coração

"Escreve para mim"

E o mundo revolta-se numa insinuação de pertença e de horror.
Caminhas os caminhos que conheço e sei, atravessas vales negros de bruma onde esqueces o teu nome.
Reaprendes a ser outro, deixas de ser tu. Ofereces o coração e a vida. E ela nega-te.

O mundo urra, o vento perfuma o inevitável, e eu escrevo-te. Escrevo-te sozinho, quiçá com uma pequena esperança a iluminar o vazio, quiçá com as mãos estendidas num gesto de súplica: "preenche-me".
Da súplica crio uma ponte, da ponte nasce uma ressonância, da ressonância sinto-te o pulsar quente das veias. És ainda dela. Quiçá um pouco meu.

O mundo cria impossibilidades, escolhas, oportunidades e encruzilhadas.
O mundo cria-nos e recria-nos.
E eu escrevo-te. Esperando, nesse acto, que a esperança do meu coração ecoe no teu.
Esperando que das minhas palavras luza uma estrela para onde possas escoar o teu vazio.

O amor violou-nos os sentidos. Até quando não sei. Dá-me a mão. Respira pelos meus lábios. Deixa que a sombra dos meus passos desenhe os teus.
Escreve-me. Solta as palavras. Renasce. Sonha. Tem esperança.

Escrevo para ti.
Preencho-te.
Sorri (me).