quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Set fire to the rain

As palavras estão retidas em mim.Paralizaram-me o maxilar e com ele os sorrisos, e com eles a paz com que cobri o coração.Abraço-te e estás aqui. És tu e proteges-me.O dia lá fora torna-se cinzento e a arteabandona-me todos os dias, por entre a crise e o dinheiro que nos escasseia.Por entre as minhas teimosias, o preço das escolhas.Não me arrependo de nenhuma.Eu sempre fui eu. Sempre fui fragmentada,sempre doeu viver. Sempre tive dores que se tornaram físicasdas palavras que rasgam o meu coração.As irmãs que deixaram o meu regaço,os amigos que me abandonaram finalmente saciadosda seiva que alimenta a coluna dorsalda minha mente.Os que se consideram mais espertos que todos os outros.O peso inconcebível das injustiças do dia a dia.Os dias que amanhecem e terminam e tudo o que fazemosé viver mais tempo nas empresas que albergam o nosso corpodo que em casa com os que amamos.E eles tornam-se aos poucos a nossa família.Subitamente conhecemo-nos, as fraquezas e as infantilidades.E aprendemos a amar os que trazemos connosco todos os dias sentados ao nosso lado.E ainda assim, às vezes a paz vem e a água traz-me atéà praia. Onde repouso os ossos cansados.Sempre tive doenças que me consumiram a alma.Sempre fiz escolhas. Tomei opções. Os perdõesconsumiram-me a saúde e por vezes, só por vezes, sinto que é o fim da linha. O dia amanhece e eu seique é tudo tão irrisório. Todo este desfilar de diasem que trabalhamos apenas para os poucos momentosem que os abraços surgem.E dói. Dói e a dor surge-me em lágrimas e sal,engole-me viva. E chove.Eu tive fé nas pessoas. Tive fé em mim. Eu tive féna força que me leva o corpo ao final.Aos poucos a poesia abandona-me por entre a tristezae o tempo que desaparece. Aos poucos é tudo impossível para quem trabalha diariamente.Aos poucos, a arte foge-me e é difícil manter ideais de justiçaquando tudo o que vemos é o aldrabar de um sistema.E as pessoas consomem-se. E a alma dói-me.Dói-me todos os dias. O medo tolda as pessoas.O medo é o final da linha. Quando nos roubarem o sorriso.Quando nos roubarem tudo.As palavras estão retidas no meu coração.Onde crescem e se magoam.A poesia desapareceu-me. Mas eu ainda sou eu. Por entre as nuvens. Mesmo quando chove.