domingo, 1 de setembro de 2013

"Summertime Sadness"

O momento em que descobres que os monstros te lambem os poros por baixo da pele. A linha ténue que separa a loucura da sanidade. Um rasgo de genialidade, com que enganas o desespero. Convences o vazio que existem flores e verde num tempo diferente. Sorris um sorriso quebrado perante a negação da droga com que afogam as inseguranças. Pessoas que trilham a pedra que separa a varanda do infinito. Não conhecem o fim, o início. Não compreendem o motivo que os faz acordar todas as manhãs, corrompidos dos comprimidos com que valsaram com o sono. Os olhos injectados de insónia e de mágoa. Os químicos que os atiram num sono pesado, Violador. Que apaga a memória, que não deixa espaço para sonhos desbotados. Uma população trémula, faminta de deus, de sentido. Uma população que deixou de sonhar. O momento em que descobres os monstros que te sussurram no silêncio. Te murmuram ladainhas de dias em que te curvaste sobre ti mesmo, febril, os dedos vazios. As lágrimas suspensas a aguardar o estilhaço da alma, para devastarem a pele desgastada do rosto. O momento em que olhas os monstros nos olhos. Cegos. Em que aguardas que te estilhacem. Em que esperas as garras a segurarem o teu coração, até que te vergues de dor. O momento. O momento. O momento. Interminável. Minutos que se tornam horas, que se transmutam em eternidades. Passas a língua seca pelos lábios. Vês as línguas babosas suspensas dos dentes afiados. Não desvias o olhar. Ouves os corpos que se lançam das varandas. Que riem enquanto conhecem o fechar do pano num chão duro e implacável. Ouves as mães que choram a perda de filhos. Os políticos que esfregam as mãos com a ideia de mais uma guerra absurda. Mais um fogo posto que lambe as árvores tristes. Ouves mais um dia a abraçar a noite. Os monstros afastam-se devagar. Para que saibas que por hoje venceste. Uma luta interminável de vontades. Em que não existem vencedores e vencidos. Apenas pedaços de ti pendurados nas paredes do quarto escuro.

1 Comment:

Daniel Aladiah said...

Querida Sílvia
No silêncio do quarto, recolhendo esses pedaços preciosos de um corpo, de uma alma, que é preciosa quanto inteira.
Beijo
Daniel