segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Eco da eternidade

Sinto as palavras a sussurrarem pedaços de mim, tão distantes, frias, cruas. Dos braços da árvore pendem as fotografias que nunca tirei, pedaços de nada e de irrealidade. Estórias, memórias, sonhos que se perdem, esquecidos por entre as melodias do vento. E finalmente, o silêncio. Cúmplice de tantas noites, tantos poemas, tantos gritos que rasgam as cores opacas dos caminhos por percorrer. Existe verdade na solidão. Existe poder na noite que, imperturbável, te colhe as asas. A espaços, o Sol seduz-me, quente. Inflama o coração de labaredas que lambem os vazios. Destemidas. Líquidas, ferozes. Sentimentos que invadem as veias, forçam as mãos a abrirem-se, honestas. Fecho os olhos para não os ferir de tanta luz. Engasgo-me com a força de reter a voz na garganta. Na árvore, sinto o pulsar das fotografias que se derretem numa paleta de cores e sentires. Um rio de laranjas e vermelhos e liláses que escorrem na pele, até aos dedos. Um rio de acontecimentos e escolhas que pintam a minha pele de futuros inacabados. As cores mascaram a veracidade do meu coração tolhido, gasto, retalhado. O Sol desaparece no horizonte. Fundo-me com a árvore, por entre as sombras. De mim, resta um rio de cores, como lágrimas que alimenta a terra serena. Um grito que ecoa pela eternidade, de reconhecimento do tudo que é ser-se humano.

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