terça-feira, 25 de setembro de 2012

Descoberta

Deito fogo às fotografias, aos sorrisos. Aos sonhos. Disseste-me "Ainda bem que és a última pessoa a sonhar." Fizeste questão em sufocar o sonho, em agarrar a raíz e arrancar a ternura do meu coração. Largaste o corpo, a carcaça, o despojo de mais uma fantasia. Mais um passo em falso, mais um recuo. Nada mais existe em mim que queira dar. Encerro tudo cá dentro. E grito. Finalmente. Grito até que me sangra a voz. Quebro tudo. Deixo que o nojo me cubra, me invada, como um espaço de nada. Toda eu sou um ponto final e uma negação. Cravo as unhas nas paredes. Renego as palavras. Finalmente, o silêncio. Finalmente, a noite. O profundo vazio que substitiu a mágoa. Eu deixo de ser eu. Vergo. Finalmente, derrotada. Os dias que não nasceram desaparecerem comidos pelas traças da realidade. Este sempre foste tu. E as vozes questionam-me. O motivo dos sonhos, das esperanças. Das ilusões com que ocultei a tua negligência. Grito. Grito. Grito. Grito. E nada existe e nada se cria. Tudo é revolta e náusea. E é a tua mão na minha coluna, a vergar-me o corpo cansado. Dizes-me: Não ouses jamais sonhar, não finjas que perdeste a visão, não digas nunca mais. Não ouses. Jamais. Sonhar. Grito. Descubro que para morrer não é necessário estar viva.

2 Comments:

AnaNunes said...

É isso mesmo . Acabou-se, que raio!

Que dom Silvia! :)

André Gomes said...

A beleza dos sonhos é que basta adormecer para teres um novo :)

Pensa que amanhã é outro dia minha fada, e que neste teu novo mas repetido inverno, eu estarei aqui .

Quanto ao resto, expresso um sorriso à revolta.

Um beijo. André