sábado, 29 de setembro de 2012

Estações

As estações passam, a eterna espiral do desassossego. As verdades que vertem na alma o licor com que embriagam os dias. Tatuagens da mente, frivolidades com que enganamos o passar da mediocridade. A alma é infinita, a força que escondemos as dúvidas, as desesperanças, os jogos que nos trouxeram à loucura. Arrumo suavemente as roupas, os momentos, finjo acreditar que amanhã o Sol nasce mais cedo. Aqui foram todos os inícios, todos os recomeços. Aconchego o coração na caixa prateada, ato-a com um laço vermelho rubro. Guardo-o. Cubro-o de silêncio e de ausência. Sussurro ladaínhas, deixo que as lágrimas lavem a humilhação, a curiosa capacidade de retomar o fio da minha vida. Acordo e adormeço envolta no fim. Eu ainda sou Eu. Ninguém poderá mudar o rosto, a quietude com que teço as linhas que torneiam a minha personalidade. Podem todos partir. Aqui eu sou eu. Este é o meu mundo. Onde posso gritar. As estações passam. Mas eu sou sempre igual a mim mesma.

2 Comments:

Daniel Aladiah said...

Querida Sílvia
Bem verdade, até naquilo que escreves (muito bem), sempre igual a ti mesmo, e assim é que deve ser...
Beijo
Daniel

Patrícia Vieira Rebelo said...

Gostei de ler este post. Criei um blog para libertar as minhas emoções num momento de ruptura da minha vida.
Idenitfico-me com o que escreveste na medida em que faço o inverso: tento sempre ser diferente por não me aceitar. Mas tens razão: devemos ser iguais a nós mesmos. Afinal, o que é que temos mais de inteiramente nosso?