quinta-feira, 2 de março de 2023

O meu corpo é uma prisão

 O meu corpo é uma prisão que se degenera
enquanto o tempo se eclipsa, o mundo
não se suspende quando a dor me
afoga, desinteressada.
Disassocio com os olhos vagos,
a estrada parece interminável,
médicos observam-me intrigados
com a infinidade de pequenos erros
que se atropelam para me envelhecer.
Percorro um corredor de gabinetes,
saio duma porta e entro noutra,
tomo um comprimido enquanto empurro
outra porta. A teia torna-se incrivelmente complexa
quando pequenos erros se juntam a outros erros,
emaranham a minha genética e tudo o que esteve
errado na minha vida. Cada grito que silenciei
entrelaça-se na probabilidade que a minha coluna
irá ceder antes de mim. Cada lágrima que me escorreu
pelo rosto, agregada ao sangue,
aos anticorpos que são anti. Anti o meu corpo.
Anti a minha genética. Um erro numa linha de produção,
um soluço da Humanidade, um engano
de Deus. Uma alma demasiado grande para
a fragilidade da pele.
Uma faca encostada à carótida enquanto respiro.

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