domingo, 15 de novembro de 2009

A lenda II

Volveram-se meses até que finalmente voltou. Voltou, hesitante, ao templo. Percorreu-o, com vozes a assombrá-lo, vozes que lhe diziam que a pequena criança-fada não estaria porque nunca existiu.
Quando finalmente se aproximou dos portões viu-a. Tão etérea como a recordava nos minutos que antecedem a morte da noite.
Tocou-lhe timidamente numa madeixa de cabelo. E ela falou novamente. Falou de infâncias, de mundos perdidos e de eternidades.
Deixou que falasse, deixou que falasse até que lhe soubesse de cor os lábios, os traços leves, as mãos brancas.
Deixou que falasse até que a noite anunciasse a chegada e partiu.
Nessa noite bebeu. Bebeu até esquecer a voz e o sorriso, as mãos e o colo. Não a queria dentro de si, a imagem viva de uma entrega que não sabia e não era possível.
Os dias consumiram-lhe a alma. Vieram mulheres. Como sempre vinham, atraídas pelo seu cansaço e pela solidão.
Esqueceu-a.

2 Comments:

André Gomes said...

Os dias consumiram-lhe a alma. Vieram mulheres. Como sempre vinham, atraídas pelo seu cansaço e pela solidão.
Esqueceu-a.

Existe um plenário para todos os caminhos . Talvez a chegada .

O tempo para alguns é cruel .

Mas não existe nada como o genuíno .


O verdadeiro .


Fada , até já *

Daniel Aladiah said...

Querida Sílvia
O que tenho perdido! Mas sempre a tempo de te ler e reparar que não sabes escrever mal. Digamos que a escrita é uma faceta de beleza que te é própria, para lá de tudo oq ue em ti deverá ser belo.
Um beijo
Daniel