sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A lenda V

Voltou ao templo. Ela sorria-lhe, como sempre lhe sorria. Tão perfeitamente coerente.
Puxou-a para si e segurou-a pelos cabelos, com força.
Ela olhou-o confusa. Sim, sim... Era ele que a tinha e que a dominava. Rasgou-lhe a roupa.
Aguardou que chorasse. Que dissesse o quão monstruoso era. Aguardou, o coração estilhaçado.
"amor" - ouvia-a arquejar - "que te fizeram? quanta dor consegues albergar no espaço limitado do teu corpo? quem rasgou a tua garganta?"
E ele sentiu-se compelido a contar-lhe todas as desventuras, todas as acusações, todas as máscaras, todos os pesadelos. Lambeu os lábios, fê-la recuar, tinha fraquejado, sabia que sim, sabia que ela o pressentiria.
Entrou nela, rebentou-a de tesão e lamento.
Só desta vez, prometeu a si mesmo. Só agora, só este pedaço de luz, só este sorriso.
Não sabia que sentimento era aquele que lhe transbordava da alma para o corpo, do corpo para o sexo, do sexo para o esperma. Não sabia que amor-demência-necessidade era aquele.
Amanhã não voltaria. A luz dela ofuscava-o, a exigência do seu amor.

1 Comment:

Anónimo said...

Que textosão... gostei... (Sou um fa teu... )